Artigo Prifissional

17.06.2025
Conceição Calhau | Nutricionista, investigadora e Professora Catedrática da Nova Medical School
SUPLEMENTAÇÃO AO LONGO DA VIDA
A longevidade é o desafio do século. Já não se fala em envelhecimento ativo/envelhecimento saudável, mas cada vez mais, e bem, em longevidade.
O envelhecimento não é uma doença e também não devemos pensar na saúde apenas e só em idades mais maduras. Na mulher, sobretudo, isso é muito preocupante. Quase que só se fala em menopausa como se estivéssemos a falar de validade. E da validade à embalagem, um instante. A saúde é para cuidar sempre e não apenas aos 65 anos (idade de preconceito de ‘idoso’ que, aliás, foi definida no século passado – hoje, aos 65 anos, temos ainda muita vida para viver e por isso, não temos nada de ‘velho’).
A saúde no feminino é de uma exigência maior porque as mulheres têm razões biológicas (funções reprodutoras exigentes quer durante a gravidez, amamentação, ou mesmo na menopausa e razões de pressão social (de que devem estar bonitas, devem ser líderes, devem ser mães, devem ser magras, devem ser mulheres, devem ser etc.) que lhes causam bastante ansiedade. Apesar disto, o mais importante será capacitar a mulher de competências na área da saúde e do autocuidado ao longo de toda a vida.
A nossa saúde está dependente de muitas variáveis: genéticas e ambientais/modificáveis, mas atenção que devem ser cuidadas desde sempre. A alimentação faz parte dessas variáveis modificáveis e sabemos que precisamos de nos alimentar para obter compostos que o nosso organismo não produz e por isso, precisamos de obtê-los a partir de uma dieta.
No que diz respeito à alimentação, hoje não se desenha uma dieta apenas tendo por base o género homem/mulher, idade e estatura de uma pessoa. A dieta deve ser, também, personalizada conforme o estilo de vida e características genéticas de cada um.
Nos alimentos temos os macro (hidratos de carbono, gordura e proteínas) e os micronutrientes (minerais e vitaminas) assim como, uma dimensão imensa de compostos bioativos não definidos como nutrientes, por exemplo, os fitoquímicos que têm efeitos relevantes na nossa saúde.
A verdade é que obter tudo da ingestão diária, ou seja, dos alimentos, é cada vez mais um desafio por vários motivos:
1) Não nos alimentamos tão bem como o necessário (hábitos alimentares inadequados, sendo das principais causas de falta de saúde em Portugal);
2) As necessidades de hoje, face às rotinas/estilos de vida do passado, são muito diferentes. Na prática, precisamos de menos energia, porque executamos tarefas de menor exigência energética expressiva, o que resulta de um maior sedentarismo. Ora, se precisamos de menos energia, o desafio será escolher alimentos com menos valor energético, mas nutricionalmente mais ricos. Somam-se, ainda, rotinas mais exigentes que resultam numa maior inflamação e stress;
3) Os alimentos em natureza - as matérias-primas - estão diferentes devido a diferentes contextos de clima, de produção primária (quer animal quer vegetal), de utilização de agroquímicos diferentes, ou até, do tempo de vida dos alimentos ‘frescos’ que já não são colhidos e ingeridos. Ou seja, a composição química dos alimentos, hoje, pode ser muito diferente da composição química de há umas décadas;
4) Grande parte da população já apresenta resistência à insulina, hipertensão, e apresentam necessidades e prioridades nutricionais diferentes. Manifestam-se fenómenos de processo digestivo comprometido, tais como, intolerâncias, ou seja, queixas gastrointestinais que alertam que a absorção de vitaminas e minerais pode estar diminuída.
Na verdade, os contextos individuais clínicos devem delinear a trajetória da nossa saúde e, até, dou o exemplo da importância de monitorizar os níveis de vitamina D para ajustar a suplementação e avaliar a sensibilidade à insulina (índice HOMA-IR) de modo a antecipar a Diabetes.
É muito importante, sempre que necessário, corrigir alimentação, o sono e a prática de exercício físico assim como, saber gerir stress e tomar suplementos, quando clinicamente fizer sentido. No entanto, a máxima de ‘se um suplemento faz bem, três ou mais, fazem melhor” não faz sentido.
A saúde do sistema imunitário é, cada vez mais, um foco da atenção clínica, devido à inflamação crónica em que vivemos à qual precisamos de reagir porque se trata de uma agressão que quando não tratada atempadamente, pode resultar em risco de obesidade, cancro, Diabetes, doenças neurodegenerativas, depressão, entre muitas outras. Para um bom funcionamento do sistema imunitário, além da saúde intestinal, temos de ter níveis adequados de vitamina D e de vitamina C. Com a maior privação de hidratos de carbono, com menor ingestão de cereais, podemos ter deficiências vitamínicas, por exemplo ao nível do complexo B – nestes casos a suplementação pode ser uma solução mais imediata e eficaz.