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Artigo Profissional

24.06.2025

Artigo Profissional

Virgínia Marques | Nutricionista especializada em Fertilidade e Gravidez

Endometriose e Intestino: a relação que ninguém esperava

O que é que o seu intestino tem a ver com a dor?

A endometriose é uma doença ginecológica complexa caracterizada pela presença de tecido semelhante ao do endométrio, mas fora do útero. Essa condição pode desencadear dor intensa e impactar, significativamente, o bem-estar físico, mental, social, sexual e reprodutivo das mulheres. Estima-se que a endometriose afete cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva, sendo que, entre 30% a 50%, podem apresentar dificuldades para engravidar. Por ser uma patologia associada ao estrogénio e de natureza inflamatória, a sua progressão pode estar associada à saúde intestinal.

Estudos recentes destacam a disbiose intestinal como um fator relevante no controlo da endometriose. Esta condição, refere-se ao desequilíbrio da microbiota intestinal, caracterizada pela proliferação de bactérias “más” e pela redução de bactérias “boas”. O conjunto de microrganismos que habitam o intestino, desempenham um papel importante no metabolismo de estrogénio. Para além disso, a presença de uma disbiose intestinal, pode levar a uma permeabilidade intestinal e com isso induzir inflamação.

Quando estamos presentes a este quadro de desequilíbrio na metabolização e aumento de inflamação, cria-se um ambiente propício à progressão da endometriose.

Manter a saúde intestinal deve ser uma prioridade, especialmente para mulheres com endometriose. Nesse contexto, a nutrição desempenha um papel fundamental. Intervenções nutricionais que promovam um equilíbrio na microbiota intestinal podem reduzir a inflamação característica da patologia e otimizar a metabolização do estrogénio.

Para otimizar a saúde intestinal, é recomendável adotar uma alimentação com características anti-inflamatórias, incluindo:

·        Redução do consumo de: alimentos ultraprocessados, carnes vermelhas e enchidos, açúcares, farinhas refinadas e álcool.

·        Priorizando o consumo de:

o   Alimentos ricos em polifenóis, como frutos vermelhos, maçã, cebola, uvas, laranja, gengibre e curcuma.

o   Alimentos ricos em fibras, abundantemente presente nos vegetais e frutas.

o   Fontes de omega-3, como peixes, sementes e frutos oleaginosos.

o   Quantidade adequada de água para hidratação e regulação intestinal.

o   Hábitos saudáveis, incluindo a manutenção da atividade física regular.

O consumo de probióticos e prebióticos também pode contribuir para a restauração do equilíbrio da microbiota e para a redução da permeabilidade intestinal. No entanto, a suplementação deve ser avaliada por um profissional de saúde.

A adoção de estratégias nutricionais voltadas para a melhora da microbiota intestinal pode representar uma ferramenta valiosa no tratamento da endometriose, auxiliando na redução da inflamação e na melhora da qualidade de vida das pacientes.

 

 
Artigo Prifissional

17.06.2025

Artigo Prifissional

Conceição Calhau | Nutricionista, investigadora e Professora Catedrática da Nova Medical School   SUPLEMENTAÇÃO AO LONGO DA VIDA A longevidade é o desafio do século. Já não se fala em envelhecimento ativo/envelhecimento saudável, mas cada vez mais, e bem, em longevidade. O envelhecimento não é uma doença e também não devemos pensar na saúde apenas e só em idades mais maduras. Na mulher, sobretudo, isso é muito preocupante. Quase que só se fala em menopausa como se estivéssemos a falar de validade. E da validade à embalagem, um instante. A saúde é para cuidar sempre e não apenas aos 65 anos (idade de preconceito de ‘idoso’ que, aliás, foi definida no século passado – hoje, aos 65 anos, temos ainda muita vida para viver e por isso, não temos nada de ‘velho’). A saúde no feminino é de uma exigência maior porque as mulheres têm razões biológicas (funções reprodutoras exigentes quer durante a gravidez, amamentação, ou mesmo na menopausa e razões de pressão social (de que devem estar bonitas, devem ser líderes, devem ser mães, devem ser magras, devem ser mulheres, devem ser etc.) que lhes causam bastante ansiedade. Apesar disto, o mais importante será capacitar a mulher de competências na área da saúde e do autocuidado ao longo de toda a vida. A nossa saúde está dependente de muitas variáveis: genéticas e ambientais/modificáveis, mas atenção que devem ser cuidadas desde sempre. A alimentação faz parte dessas variáveis modificáveis e sabemos que precisamos de nos alimentar para obter compostos que o nosso organismo não produz e por isso, precisamos de obtê-los a partir de uma dieta. No que diz respeito à alimentação, hoje não se desenha uma dieta apenas tendo por base o género homem/mulher, idade e estatura de uma pessoa. A dieta deve ser, também, personalizada conforme o estilo de vida e características genéticas de cada um. Nos alimentos temos os macro (hidratos de carbono, gordura e proteínas) e os micronutrientes (minerais e vitaminas) assim como, uma dimensão imensa de compostos bioativos não definidos como nutrientes, por exemplo, os fitoquímicos que têm efeitos relevantes na nossa saúde. A verdade é que obter tudo da ingestão diária, ou seja, dos alimentos, é cada vez mais um desafio por vários motivos: 1)     Não nos alimentamos tão bem como o necessário (hábitos alimentares inadequados, sendo das principais causas de falta de saúde em Portugal); 2)     As necessidades de hoje, face às rotinas/estilos de vida do passado, são muito diferentes. Na prática, precisamos de menos energia, porque executamos tarefas de menor exigência energética expressiva, o que resulta de um maior sedentarismo.  Ora, se precisamos de menos energia, o desafio será escolher alimentos com menos valor energético, mas nutricionalmente mais ricos. Somam-se, ainda, rotinas mais exigentes que resultam numa maior inflamação e stress; 3)     Os alimentos em natureza - as matérias-primas - estão diferentes devido a diferentes contextos de clima, de produção primária (quer animal quer vegetal), de utilização de agroquímicos diferentes, ou até, do tempo de vida dos alimentos ‘frescos’ que já não são colhidos e ingeridos. Ou seja, a composição química dos alimentos, hoje, pode ser muito diferente da composição química de há umas décadas; 4)     Grande parte da população já apresenta resistência à insulina, hipertensão, e apresentam necessidades e prioridades nutricionais diferentes. Manifestam-se fenómenos de processo digestivo comprometido, tais como, intolerâncias, ou seja, queixas gastrointestinais que alertam que a absorção de vitaminas e minerais pode estar diminuída. Na verdade, os contextos individuais clínicos devem delinear a trajetória da nossa saúde e, até, dou o exemplo da importância de monitorizar os níveis de vitamina D para ajustar a suplementação e avaliar a sensibilidade à insulina (índice HOMA-IR) de modo a antecipar a Diabetes. É muito importante, sempre que necessário, corrigir alimentação, o sono e a prática de exercício físico assim como, saber gerir stress e tomar suplementos, quando clinicamente fizer sentido. No entanto, a máxima de ‘se um suplemento faz bem, três ou mais, fazem melhor” não faz sentido. A saúde do sistema imunitário é, cada vez mais, um foco da atenção clínica, devido à inflamação crónica em que vivemos à qual precisamos de reagir porque se trata de uma agressão que quando não tratada atempadamente, pode resultar em risco de obesidade, cancro, Diabetes, doenças neurodegenerativas, depressão, entre muitas outras.  Para um bom funcionamento do sistema imunitário, além da saúde intestinal, temos de ter níveis adequados de vitamina D e de vitamina C. Com a maior privação de hidratos de carbono, com menor ingestão de cereais, podemos ter deficiências vitamínicas, por exemplo ao nível do complexo B – nestes casos a suplementação pode ser uma solução mais imediata e eficaz.  

Artigo Profissional

11.06.2025

Artigo Profissional

Marisa Branco | Fisioterapeuta Pélvica Quando falamos de saúde feminina, é importante abordar a saúde pélvica. A saúde pélvica tem um impacto significativo na qualidade de vida, na autoestima, nos relacionamentos e na saúde mental de todas as mulheres. No entanto, é pouco falada e conhecida, até mesmo por profissionais de saúde, e acaba por ser negligenciada, desvalorizada e remediada. O pavimento pélvico, constituído por músculos, nervos, ligamentos e fáscia, é o protagonista no que toca a este tema. Tem como função o suporte dos órgãos pélvicos (bexiga, útero e reto), a continência urinária e fecal e assume um papel importante na função sexual. Existem fases da vida mulher em que o risco de disfunção do pavimento pélvico é maior, como na gravidez, no pós-parto e na menopausa, no entanto uma disfunção pode surgir em qualquer fase da vida da mulher, desde a infância. A disfunção do pavimento pélvico reflete-se em sintomas como a incontinência urinária e/ou fecal, prolapso dos órgãos pélvicos (descida do útero, bexiga ou reto), dor sexual ou até mesmo impossibilidade de penetração e dor pélvica. Preocupada e apaixonada por este tema, dedico a minha prática clínica desde 2019 à saúde da mulher, tendo para isso criado o espaço: “O Melhor de mim” em Santa Maria da Feira. Nas minhas consultas surgem, frequentemente, mulheres que, por causa das perdas de urina, levam sempre na carteira uma muda de roupa, ou evitam ir a concertos, ou festivais por ser difícil chegar à casa de banho. Ou então mulheres com dor sexual, que se sentem emocionalmente abaladas, com uma autoestima destruída e com problemas nas relações amorosas. Já para não falar em casos de mulheres que, após o parto, deixam de controlar e reconhecer o próprio corpo. São problemas mais comuns do que podem imaginar, vividos em silêncio por muitas mulheres que já procuraram ajuda e não encontraram solução, por outras que ainda não tiveram a coragem de procurar ajuda e pelas que nem sequer sabem que existe solução. Por isso deixo a seguinte mensagem: Se sofres com alguma disfunção pélvica ou queres prevenir o seu surgimento, a solução não é usares um penso higiénico diariamente, não é beberes um copo de vinho para relaxar antes da relação sexual e muito menos, viveres a vida toda assim, mas sim recorreres à fisioterapia pélvica. Espero que um dia venha a ser tão normal ir à fisioterapia tratar uma incontinência urinária ou dor sexual, como é normal numa situação de dor lombar.   VER VÍDEO - Três exercícios para combater e prevenir a disfunção do pavimento pélvico. VER VÍDEO - Sabe mais sobre a prevalência de DOR SEXUAL nas mulheres.

testemunho pessoal

03.06.2025

testemunho pessoal

Beatriz | 47 anos “Não sou fada do lar. Não cozinho, não limpo, não passo a ferro… e estou bem assim.”  “Não tenho qualquer problema em admitir que as tarefas da casa não são para mim. Houve uma altura, no meu primeiro emprego e início da fase adulta, que posso ter tido alguma vergonha sobre o tema porque as minhas colegas me viam como mimada, por dizer que não fazia as tarefas domésticas”, Beatriz, 47 anos. Quisemos saber qual tem sido a reação das pessoas mais próximas em relação a esta forma de estar na vida: “neste momento, já nem reparo se olham de lado para mim ou não. Se o fazem, não dou mesmo por isso, porque estou super tranquila sobre este assunto. Sei que as pessoas, normalmente, se riem, não sei se por graça, desdém ou compaixão, mas também, quando falo do tema menciono-o sempre de uma forma divertida e termino sempre com “cada um é para o que nasce.” Ficámos curiosas sobre a dinâmica em casa da Beatriz e ela explicou-nos que para a limpeza da casa e o passar a roupa a ferro tem sempre ajuda externa de uma senhora. No que diz respeito à cozinha, admite que teve muita sorte: “ter um marido que é o meu oposto nestas questões: muito arrumado e organizado e o melhor de tudo, adora cozinhar, por isso, as refeições ficam 99% das vezes por conta dele. Se não fosse assim, também sei que eu teria de fazer diferente. Quando nos casámos ele disse-me que cozinhar, para ele, era terapia, ao que respondi “perfeito, para mim comer também é uma terapia”. Às quintas-feiras o meu marido raramente janta em casa e, nesses dias, a minha filha já sabe que é dia de encomendar comida. No que respeita a colocar a roupa a lavar, estender e apanhar vamos fazendo os dois, mas sem regras estabelecidas.” A Beatriz é mãe de uma menina e tentámos perceber que tipo de educação e mensagem é que gostava de passar à filha: “a mesma mensagem que estaria a passar se fosse mãe de um rapaz. Ainda bem que o meu trabalho me permite ganhar o suficiente para não fazer o que não aprecio. E se assim não for, que numa casa todos têm igual responsabilidade de ajudar.” E se o trabalho não permitisse ter esta ajuda e se, por algum motivo, tivesse mesmo que ser uma “fada do lar” como seria a vida da Beatriz? “Teria de o fazer. Quando era miúda na casa dos meus pais, não havia “mulher a dias” então à sexta-feira à tarde e sábado de manhã era dia de limpezas para mim e para a minha irmã. Era um dia chato e irritante, mas tinha de ser feito. Em minha casa seria igual. Eu só sou assim porque tenho possibilidade de ser assim. Sem qualquer inspiração. Se o meu marido não gostasse de cozinhar, tinha de dividir essa responsabilidade com ele.” O que é que gostavas de dizer a todas as mulheres que estejam a ler este artigo: “É importante termos consciência que as tarefas da casa não são só responsabilidade das mulheres e educar os filhos com esse princípio, também é fundamental, para que, no futuro, seja mais fácil este tipo de decisões poderem acontecer. Na casa dos meus pais, as tarefas da casa eram exclusivas da minha mãe e a partir de uma certa idade nós passámos a ajudar, mas porque os meus pais assim o tinham estipulado. O meu pai saía todos os dias para trabalhar fora e a minha mãe ficava em casa era “dona de casa”, com a responsabilidade da casa e das filhas. No entanto, nunca passaram a ideia que nós (eu ou a minha irmã) casando teríamos de assumir a mesma responsabilidade, porque assumiram, desde logo, que também nós sairíamos de manhã para trabalhar. Neste momento, também a minha mãe já tem ajuda em casa e o meu pai está tranquilo com isso.”    

TESTEMUNHO PROFISSIONAL

28.05.2025

TESTEMUNHO PROFISSIONAL

Dia 28 de maio assinala-se o Dia Internacional pela Saúde da Mulher e por esse motivo, quisemos ouvir conselhos de quem lida com mulheres diariamente nas mais diversas áreas da saúde. O que é que ainda há para descobrir sobre a saúde feminina? Que tabus persistem? Que avanços foram feitos? O que é que uma mulher pode fazer para viver melhor? Que caminho escolher quando o objetivo é mantermo-nos saudáveis e felizes? Bárbara Plácido | Nutricionista. “A primeira realidade que devemos ter em conta na nossa vida é o nosso autocuidado. A nutrição não deve ser vista como algo negativo, associado a dietas restritivas e apenas importante para seguir um padrão exterior, mas sim como uma forma de nos cuidarmos e de nos valorizarmos. Necessitamos de utilizar a nutrição como uma fonte de energia natural para vivermos melhor, respeitando sempre os sinais que o nosso corpo nos dá. O estabelecimento de metas realistas, as mudanças sustentáveis e a celebração das nossas conquistas são meio caminho para alcançarmos o sucesso, no que toca ao respeito e admiração pelo nosso corpo e mente. Não esquecendo que cada uma de nós conta a sua própria história!” Marisa Branco | Fisioterapeuta pélvica “Neste dia tão importante para todas nós, mulheres, deixo a seguinte mensagem: Se sofres com alguma disfunção pélvica ou queres prevenir o seu surgimento, a solução não é usares um penso higiénico diariamente, não é beberes um copo de vinho para relaxar antes da relação sexual e, muito menos, viveres a vida toda assim, mas sim recorreres à fisioterapia pélvica. Espero que um dia venha a ser tão normal ir à fisioterapia tratar uma incontinência urinária ou dor sexual, como é normal numa situação de dor lombar.” Sofia Carvalho Pinto | Médica especialista em Medicina Preventiva na Clínica Pilares da Saúde “A ciência, cada vez mais, tem conseguido provar as alterações que o stress causa na nossa saúde, ele impacta diretamente o nosso ritmo de envelhecimento e pode levar ao aparecimento de doenças, bem como ao agravamento de outras que já existam, por exemplo doenças autoimunes. A partir dos 40 anos inicia-se o processo de perda das hormonas, o que pode levar a sintomas novos e mudanças quer físicas, quer a nível psicológico e de humor. Para evitar a perda de qualidade de vida, é importante manter um acompanhamento médico regular, com vista, em primeiro lugar, à prevenção destas doenças.” Andreia Filipe Vieira | Psicóloga Clínica “Um conselho para as mulheres portuguesas: Permitam-se sentir. Validem o vosso cansaço. Cuidar de si mesmas não é egoísmo é, antes de mais, um ato de amor-próprio e um passo essencial para cuidarem dos outros com autenticidade e presença. Procurem escutar-se mais e julgar-se menos. E, se for necessário, não hesitem em procurar apoio psicológico. Não têm de carregar tudo sozinhas. Definam prioridades e sigam aquilo que realmente querem e não o que a sociedade espera de vocês. Crítica por crítica, no fim, é preferível que se sintam bem com as escolhas que foram feitas por vocês, e não pelos outros.”

Testemunhos Pessoais

22.05.2025

Testemunhos Pessoais

Eu sempre soube que o meu irmão era o preferido... Dois testemunhos, duas perspetivas diferentes sobre um mesmo assunto. Será que são as únicas pessoas que sentem que os pais têm um filho preferido? Ou será que é uma realidade para muitas pessoas que têm medo de o admitir publicamente? A Maria (nome fictício) tem 20 anos de diferença do irmão e tem plena consciência que não é a preferida dos pais. A Maria tem, agora, 37 anos e o irmão 57. Desde que se lembra, o irmão sempre foi o preferido pela forma como os pais o tratavam e pela preocupação excessiva que existia com ele.   Já confrontou os pais e o irmão, várias vezes, sobre o assunto: “sim, sempre brinquei, tanto com os meus pais como com o meu irmão. Nunca me foi dito que era verdade, mas através de sorrisos e beijinhos, também nunca ninguém me negou”. Ainda que, para a Maria, este comportamento da família seja evidente, garante que não a afeta: “digo sempre que é só por ser rapaz e eu ser menina”. Quando a questionámos sobre em que momentos se sentia “menos especial” que o irmão, a Maria deu-nos exemplos muito simples e que aconteciam e, ainda acontecem, com bastante frequência na casa dos pais. “O ter de esperar por ele para comer, pois chega sempre atrasado. Ou até, na escolha da comida, do prato e dos talheres que ele gosta.” Quisemos saber se, de alguma forma, esta diferença que sentia dentro de casa a moldou enquanto pessoa e a Maria afirmou: “não sei bem de que maneira me possa ter moldado, como sempre levei “na boa”, nunca dei importância a não ser, quando estamos em família, que é sempre mais um motivo de brincadeira, confusão e de discórdia entre todos”. Aproveitámos o momento para dar liberdade à Maria de dizer o que nunca disse aos pais. Uma mensagem que gostasse de passar a todas as famílias em que esta seja uma realidade:“os pais deviam admitir que é normal gostar mais de uns do que de outros, o ter consciência pode ajudar a melhorar a relação entre todos”. Tivemos, também, a oportunidade de conversar com a Iara (nome fictício) que tem sete anos de diferença do seu irmão. A Iara tem 21 anos e o irmão 14. Começou por nos contar que quando o irmão nasceu pensou que se tratassem, apenas, de ciúmes, no entanto, com o passar dos anos percebeu: “os meus pais tinham e têm uma preferência pelo meu irmão”. Admitiu que já falou, algumas vezes, com o irmão que desvaloriza o assunto: “diz-me que vejo coisas onde não existem. Já os meus pais, negam a pés juntos que exista um favorito”. Quando questionámos se esta é uma situação que a tem afetado, a Iara respondeu, prontamente, que sim: “sempre afetou, no entanto, desde que saí de casa para viver sozinha e que os meus pais passam muito mais tempo com ele, tem sido diferente. Sinto que demonstram uma maior preocupação em relação a mim”. Pedimos que nos esclarecesse em que momentos específicos sente uma verdadeira diferença entre ela e o irmão e a resposta que nos deu foi: “o meu irmão sempre foi o filho perfeito, com notas excelentes e bem-sucedido no desporto. Eu não. Sempre fui uma aluna mediana e fazia desporto porque tinha de ser. Os meus pais falam bastante nele a toda a gente como sendo o menino dos olhos deles”. Outro exemplo que nos deu, foi a forma como os pais se dirigiam a ela sempre que estavam incontactáveis durante algum tempo: “se ficarmos horas sem atender o telefone, a primeira pergunta que fazem é: e ele como é que está? Ele está bem?”. Iara foi aprendendo a viver e a gerir esta diferença que sempre sentiu dentro de casa: “como a relação com o meu irmão sempre foi muito próxima e boa, eram mais os momentos em que me esquecia deste sentimento do que os que valorizava, mas não escondo que, em alguns momentos enervava-me e chegava a pôr-me em causa: será que não faço nada bem?”. Mesmo perante esta adversidade, Iara garante que conseguiu tornar-se uma pessoa confiante. “Os pais que têm mais ligação com um filho do que com o outro, tentem não o demonstrar porque podem afetar mesmo a vida e o crescimento dos vossos filhos” – esta é a mensagem que a Iara gostava que chegasse aos pais que têm consciência de que não amam os filhos de igual forma.

Artigo Profissional

21.04.2025

Artigo Profissional

Por: Fernando Mesquita | Psicólogo Clínico/Sexólogo É possível recuperar a chama do desejo? O desejo sexual, também conhecido como libido, é uma componente natural da sexualidade humana. É ele que alimenta a nossa vontade de tocar, olhar, beijar… de procurar prazer!   Pode despertar como resposta a estímulos externos, tais como um gesto provocante, palavras sussurradas, um toque inesperado, uma troca de olhares ou a visualização de conteúdos eróticos ou pornográficos. Mas, também pode surgir de dentro: de uma memória, de uma fantasia proibida, ou simplesmente da vontade de querer agradar a quem se ama.   Mas, tão natural como o desejo pode surgir… também pode abrandar. E, quando isso acontece, é frequente surgirem dúvidas, culpas e inseguranças. Mas, é importante lembrar: o desejo é sensível ao que nos rodeia e ao que se passa dentro de nós. Na verdade, o desejo funciona como um termómetro do nosso bem-estar físico, psicológico e relacional.    E, ao contrário do que muitas vezes ouvimos, as hormonas não são as únicas protagonistas desta história! É verdade que as hormonas têm um papel relevante, mas algumas doenças crónicas (como cancro, diabetes, doenças cardiovasculares e ginecológicas), o uso de certos medicamentos (antidepressivos, neurolépticos, sedativos, anti-hipertensivos e quimioterápicos), altos níveis de stress e ansiedade, estados depressivos, experiências sexuais traumáticas, baixa autoestima, má imagem corporal, crenças erróneas e falta de informação acerca da sexualidade, mensagens parentais negativas acerca do sexo, além da qualidade da própria relação amorosa, não são apenas atores secundários!   Além disso, é esperado que um casal apresente variações no desejo sexual. Se no início das relações, é normal os casais transpirarem desejo e sentirem uma vontade enorme de fazer amor em qualquer oportunidade, com o passar dos anos, a rotina tende a ganhar terreno: as questões do dia-a-dia parecem ser sempre prioritárias … e o sexo perde lugar na agenda. Mas, nem sempre, essa diminuição de desejo sexual é sinónimo de falta de paixão ou amor!   O Desejo Sexual Hipoativo, também conhecido como Falta de Libido, é uma das disfunções sexuais femininas mais comuns. Caracteriza-se pela ausência ou diminuição persistente e recorrente de desejo sexual, bem como pela falta de pensamentos ou fantasias sexuais, afetando significativamente a qualidade de vida da própria pessoa e, quando em casal, da relação conjugal. E, embora possa surgir em qualquer idade, esta dificuldade torna-se especialmente frequente na menopausa, afetando cerca de 20 a 40% das mulheres.   Isto acontece porque com a chegada do climatério e da menopausa, há uma quebra na produção de hormonas associadas à sexualidade: a progesterona, a testosterona e o estrogénio. Estas alterações podem afetar a lubrificação vaginal, tornando a mucosa mais seca, sensível e propensa ao desconforto durante a penetração, sobretudo se não forem usados lubrificantes ou hidratantes íntimos adequados.   Mas, isto não significa que a vida sexual tenha de desaparecer. Significa apenas que o corpo pede novas formas de estímulo, mais prolongadas e criativas. Isso pode ser uma oportunidade para o casal se redescobrir, para aprofundar a intimidade e reinventar a forma de estarem juntos.   Pois é! É possível recuperar a chama do desejo. A vida sexual pode ganhar um novo fôlego quando os casais se permitem experimentar, fantasiar, rir, falhar e tentar outra vez. Variar a rotina, explorar brinquedos sexuais, criar momentos de sedução, aceitar as fantasias sexuais, partilhá-las, compreendê-las e integrá-las na vida íntima pode ser um poderoso afrodisíaco. Afinal, o desejo também se alimenta da imaginação.  

TESTEMUNHO PESSOAL

04.04.2025

TESTEMUNHO PESSOAL

  Por: Cristiana, 39 anos    Nasci no Porto, a cidade mais linda do Mundo, e sou emigrante na Alemanha há 7 anos.    Aos 36 anos fui mãe de um menino que é a minha maior benção, o Rodrigo.  A maternidade foi sempre um dos meus objetivos, sempre sonhei ser Mãe.  Um sonho, muitas vezes, adiado porque queria reunir as condições necessárias para viver a maternidade na sua plenitude, com todos os prós e contras que dela advêm.  Queria ser uma Mãe presente. Não queria ter um filho que passasse mais tempo com os Avós do que com os Pais.  Eu sou da opinião que os Avós são Fundamentais na vida das crianças, mas queria poder dar ao meu Filho o que considero mais valioso: tempo de qualidade, exemplo e valores.    Na agitação que é a nossa vida, viemos parar à Alemanha e foi aqui que o meu Filho nasceu.    Sou uma pessoa muito positiva, vejo sempre o copo meio cheio, e embora a Emigração não seja um processo fácil, foi sem dúvida o período de maior aprendizagem da minha vida e foi por causa desta aventura que a vida me permitiu realizar sonhos: casar e ser mãe.   Hoje consigo ser uma mãe presente, que acompanha, que cuida.  A nossa única rede de apoio é o infantário, porque estamos longe da família,  o que nos permitiu sermos pais sem muitos “palpites” alheios. Educamos da maneira que achamos mais correta, em todos os sentidos.    E por falar em palpites e/ou julgamentos, neste momento, encontro-me numa situação que é alvo de muito “achismo”. O meu filho tem três anos e meio e eu ainda estou a amamentar. O que, para mim, é maravilhoso. Já ouvi uma influenciadora portuguesa (bem influente, por sinal) que era da opinião de que não fazia sentido amamentar uma criança já com dentes. Também ouvi de uma médica, com aquele tom de julgamento, que ele ia ter 6 anos e ainda ia estar a mamar.São comentários e opiniões que não me afetam, porque sou muito segura em relação ao que quero e às minha ideias, mas e aquelas pessoas que não o são? Aquelas pessoas que se deixam influenciar? O que é que lhes acontece? Provavelmente, mesmo querendo continuar a amamentar, cortam esse vínculo baseando-se naquilo que os outros acham e naquilo que a sociedade acha que tem de ser. Só consigo ter pena.   Para mim, ser Mãe, é o papel que me faz sentir mais completa enquanto Mulher e poder ter sido alimento, suplemento e agora conforto para o meu filho ainda me deixa mais realizada.  Deixo aqui a reposta que dei à referida médica para que possam refletir: ‘enquanto estiver a ser confortável para mim e para ele, que somos as pessoas envolvidas, eu vou continuar a amamentar.’  Que a sociedade se deixe de estereótipos e que se informe. Acredito que,  mesmo após os 2 anos, o leite materno continua a ter muitas vantagens para o bebé.    Sejam felizes à vossa maneira.      

TESTEMUNHO PESSOAL

01.04.2025

TESTEMUNHO PESSOAL

Por: Rafaela Granado | Apresentadora / Repórter TV “Sou mãe de uma só filha, e então?” Sempre tentei ser respeitosa e saber o limite nas palavras ou perguntas a mulheres sobre escolhas e maternidade. Sobretudo quando, muitas vezes, a questão pode até nem ser uma escolha e ser, tão somente, uma impossibilidade da vida pelos mais diversos e, até possivelmente, dolorosos motivos. Tenho uma filha, Maria Pia, linda, saudável, espirituosa, educada e amorosa com todos. Tem 9 anos. As frases que mais ouço (adivinhem!) há exatos 9 anos, vindas literalmente do nada, são: “E então? Quando vais ter o segundo filho?” “Mas tu não queres ter outro filho?” “A Pia não pede irmãos?” “A Maria está a precisar de um irmãozinho” “Ah, que pena, não ter irmãos…” “Vocês são tão bons pais, podiam ter mais filhos.” – dentre um rol de muitas outras. Durante muito tempo, relacionei tudo isto com o facto de que as pessoas estão sempre a COBRAR. A cobrança faz parte da natureza humana. Se não namoras, onde está o namorado? Se namoras, para quando o noivado? Se estás noiva há uns meses, ah por que tem que se marcar a boda! Se estás casada há um ano, não vão ter bebés?! Se tens o primeiro, para quando o segundo?! E por aí fora… Sempre, sempre a cobrança. E o que mais me choca e entristece é que vem mais de mulheres para mulheres. A sensação que tenho é que, para algumas mulheres, existe um certo deleite em cobrar algo de outra mulher. O real porquê, não sei, porque na minha natureza, não tenho isso. Mas nos últimos tempos, e porque o tema é recorrente, tenho realmente pensado bastante sobre o assunto. É porque não é só o quando vem o segundo filho, é todo o conceito “filho único” que me traz desconforto, pelo que há muito que leio sobre. Porque será que uma mulher que tem mais filhos, numericamente falando, se poderá achar nalguma medida superior a outra? Será uma forma, quem sabe?, de colmatar uma inferioridade que sentem noutras áreas da vida e tentam usar contra o Mundo uma medalha invisível do tipo “eu tenho mais filhos, eu sou melhor, eu mereço um prémio, eu sou mais”, porque lá no fundinho se acham aquém, na generalidade da sua vida? Será que, porque a imagem que tem de si mesma não lhes basta, tentam então que esta matemática de filhos seja aquilo que as superioriza em relação a outras? Nunca nada basta. Nada é o bastante. E o ciclo perpetua-se. Outra questão com a qual já fui confrontada: “Não lhe vais dar um irmãozinho para ela brincar?”. Mas estamos a falar de quê? De um brinquedo? De um qualquer Nenuco para a criança pegar e brincar?! As pessoas têm filhos para dar uma pessoa, um outro ser humano de “presente” ao primeiro filho e assim sucessivamente? Eu não vejo as coisas assim, lamento. Percebo o valor de ter irmãos, assim como vejo muitos outros tantos irmãos com relações péssimas e até mesmo tóxicas. E não, a minha filha única, (adoro a forma como muita gente entoa a expressão “filho único” depreciativamente, imagine-se!, quando já vários especialistas vieram inclusivamente condenar a existência de tal conceito), nunca me pediu irmãos, até bem pelo contrário. O que também é perfeitamente indiferente, porque não é uma criança que decide nada nesta casa. Corroborando vários estudos empíricos e psicológicos que li, posso até dizer que conheço vários filhos sem irmãos que são o oposto daquilo que vulgarmente consideramos pessoas mimadas ou narcisistas, socialmente afetadas ou superprotegidas - características levianamente atribuídas a meninos ou meninas sem irmãos. Poderia até citar pelo menos cinco nomes, seguramente, de amigos meus sem irmãos que são altamente generosos, capazes, altruístas, sociáveis, excelentes companhias, bem mais do que pessoas criadas com dois e três irmãos em casa. O ter ou não irmãos não influi no indivíduo, mas sim a criação, a conexão e a ligações emocionais criadas durante a vida, com todas as pessoas com quem nos relacionamos. De resto, as diversas comparações entre irmãos podem gerar inclusivamente traumas para toda a vida em muitos que consistentemente vivem em relações problemáticas com os pais precisamente por causa das diferenças de personalidade e/ou até mesmo de tratamento diferenciado entre irmãos. E aquela situação clássica em que uma mulher apresenta outra mulher da seguinte forma: “Esta é a minha amiga Sara, tem três filhos vê lá tu!, e dois são gémeos!” Como assim?! Isto é o que define a Sara? Se é mãe e tem filhos gémeos? A mim interessa-me zero essa informação num primeiro momento. Claro que quero conhecer a Sara, adoro conhecer pessoas, saber de todas as suas facetas, e certamente essa será interessante. Mas nunca, jamais, será essa a que a define. Durante muito tempo, a única missão da Mulher foi realmente a de procriar e manter o lar segundo a lei do homem; até ao início do século XX, inclusivamente, uma mulher que não pudesse ter filhos, poderia ser ostracizada e até rejeitada pelo patriarcado. Só mais uma forma, no fundo, da sociedade machista em que aprendemos a viver e sobreviver, controlar a vontade, o poder de escolha e livre arbítrio da mulher. Ter um só filho então, meu Deus!, significaria que a mulher era fértil, mas não queria ter mais filhos – que audácia, que egoísmo, que despautério! Quando muitas vezes sabemos que o facto de uma mulher ter um filho não significa que não possa ter dificuldades ou infertilidade à posteriori. Como católica praticante, invoco aqui algumas palavras do nosso querido Papa Francisco – “A mulher não é um ser humano de segunda categoria”. “Esta é uma sociedade com uma forte atitude masculina. Falta a mulher. ‘Sim, sim: a mulher é para lavar a louça, para fazer…’ Não, não: a mulher é para trazer harmonia. “As mulheres têm muito a dizer-nos na sociedade atual. Às vezes somos demasiado machistas, e não deixamos espaço à mulher”. Daqui retiro que a Mulher merece o mesmo respeito, os meus direitos e deveres, o mesmo poder de escolha e análise da sua vida e dos que a rodeiam. Sejamos todas menos machistas, e dispamo-nos dos preconceitos que nos foram incutidos desde pequenas. Perdoemo-nos das nossas próprias fragilidades e não andemos sempre com o modo comparação ligado. Não quero de forma alguma melindrar familiares, nem amigas e amigos, nem pessoas próximas que me são tão queridas que sei que não fazem este tipo de “cobrança” com maldade. Outras sei que o fazem precisamente com requintes de malvadez. Eu sei bem ver a diferença. Mas peço apenas que pensem sobre isto. A cobrança constante não é GIRA. E recuperando uma das ideias iniciais, ninguém sabe a não ser eu, no meu mais íntimo ser, o porquê das minhas escolhas ou da minha realidade. Respeitem-na. Ter mais ou menos filhos não nos valida mais ou menos enquanto pessoas, mulheres, mães ou até esposas. Desenganem-se. A minha maior medalha será sempre a qualidade da relação única, amorosa, presente e indestrutível que construo a cada dia com a minha filha. Sim, a minha única e deliciosa filha. Que eu escolhi ser a única. Para já. E, no futuro, logo se verá o que acontece. Aí, também, estaremos prontos para receber, educar, amar e acompanhar. Mas jamais para contabilizar, fazer competição ou, muito menos, só número. Finalizando, digo isto com amor: sejam felizes e empáticos! O Mundo será sempre um lugar melhor.

Artigo Profissional

24.03.2025

Artigo Profissional

Por: Dra. Catarina Lucas | Psicóloga/Sexóloga e Diretora do Centro Catarina Lucas  Sexo na Menopausa: (re)descobrir o prazer A menopausa é uma fase natural da vida da mulher, marcada por transformações hormonais que têm impacto em vários aspetos do seu bem-estar, incluindo a sexualidade. No entanto, esta fase não é sinónimo de perda de prazer ou fim da vida sexual. Pelo contrário, pode ser uma oportunidade para redescobrir o corpo, explorar novas formas de intimidade e fortalecer os laços emocionais e sexuais com o parceiro/a. Como é que a sexualidade é afetada? Durante a menopausa, os níveis de estrogénio e progesterona diminuem, o que pode levar a mudanças físicas e emocionais que influenciam a vida sexual, tais como: - Ressecamento vaginal: a redução de algumas hormonas pode tornar a mucosa vaginal mais fina e menos lubrificada, tornando o sexo desconfortável ou doloroso. - Diminuição da líbido: as alterações hormonais podem reduzir o desejo sexual. - Mudanças na resposta sexual: algumas mulheres podem notar menos sensibilidade ou dificuldade em atingir o orgasmo. - Fatores emocionais: ansiedade e alterações de humor também podem influenciar a disposição para o sexo.  Dicas para uma vida sexual gratificante na menopausa Quando ocorrem mudanças na vida sexual é importante entender que existem diversas formas para lidar com elas e manter a uma intimidade prazerosa. - Investir na lubrificação: o uso de lubrificantes à base de água ou hidratantes vaginais pode aliviar o desconforto durante a relação sexual e tornar a experiência mais prazerosa. - Terapia hormonal: para algumas mulheres, a terapia de reposição hormonal, prescrita por um médico, pode ser uma alternativa para aliviar os sintomas da menopausa, incluindo o impacto na sexualidade. - Explorar novas formas de intimidade: o sexo não se resume apenas à penetração. Explorar outras formas de prazer, como beijos, carícias, massagens e o uso de acessórios eróticos, pode tornar a intimidade mais prazerosa e satisfatória. - Autoconhecimento: a redescoberta do corpo é essencial. Masturbação e práticas de autocuidado ajudam a entender melhor as novas sensações e desejos. - Comunicação: o diálogo sobre desejos, inseguranças e necessidades fortalece a conexão emocional e sexual do casal, permitindo ajustes e novas experiências. - Cuidar da saúde física e mental: atividades físicas, alimentação equilibrada e técnicas de relaxamento, como yoga e meditação, contribuem para o bem-estar geral, com impacto positivo na sexualidade. - Acompanhamento psicológico: a psicoterapia pode ser uma aliada para enfrentar esta fase, lidar com as mudanças físicas e psicológicas e intervir em sintomas depressivos e de ansiedade, comuns também nesta fase. O prazer não tem idade A menopausa pode ser uma fase de transformação, mas também de oportunidades para ressignificar a sexualidade. Com informação, autoconhecimento e diálogo, é possível manter uma vida sexual ativa, saudável e prazerosa, independentemente da idade. Procurar ajuda pode ser essencial para viver esta etapa com leveza, respeito ao próprio corpo e, acima de tudo, prazer!    

Testemunho

14.03.2025

Testemunho

Por: Joana, Lisboa, 35 anos.  Sou uma mulher menos digna por perdoar uma, aliás, muitas traições?  Estou num relacionamento há quase dez anos e, no início do mesmo, perdoei várias traições.  Há mulheres que me dizem que "nunca perdoariam o companheiro" e eu também dizia isso, até estar EU no papel principal. Eu e o meu companheiro separámo-nos pelo caminho, cheios de mágoa, revolta, dor e tristeza, até nos voltarmos a juntar. No meio, cada um fez a sua terapia. Um para curar a razão dessa incessável necessidade de atenção, provocada pela ausência da sua mãe e eu, para curar o sentimento de rejeição, provocado pela falta de atenção que sentia por parte do meu pai. Não fazia ideia do impacto que isto teve e tem sobre mim, até trabalhar este ponto em terapia.   Juntos, cada um com as suas falhas, conseguimos perceber que o que se passou no passado não significava ausência de amor dentro de casa. Sou muito criticada e já me ofenderam de muitas maneiras: "corna mansa", "iludida", "tóxica", etc. Outras ofensas foram dirigidas ao meu companheiro. Diziam que eu não via como ele era um "narcisista". Enfim, a verdade é que ele nunca me responsabilizou por nenhuma atitude dele, nem se mostrou superior a mim em relação nada, muito pelo contrário, assumiu o que fez e lutou muito para ser e fazer diferente.  Passei por momentos complicados e tive dificuldade em voltar a confiar. Sou humana e, mais do que isso, sou mulher! A mulher está, constantemente, desconfiada de tudo e, muitas vezes, desnecessariamente. Não temos controlo sobre nada e, o que percebi no processo, é que eu também não fui nenhuma santa. Não fiz o mesmo, mas não fui santa. Ninguém é. Cada um de nós tem necessidades diferentes, falhas diferentes. Somos humanos, poderia ser de outra forma? Fico triste quando percebo que há mulheres que são cruéis umas para outras e, muitas delas, podem até estar a viver uma situação semelhante. Quero acreditar e tenho essa esperança de que a sociedade possa ser mais gentil. Houve arrependimento, houve uma mudança de atitude e houve crescimento pessoal. Se existe amor, as pessoas devem estar juntas e é isso que acontece connosco ponto final.