Artigo Profissional

21.04.2025
Por: Fernando Mesquita | Psicólogo Clínico/Sexólogo
É possível recuperar a chama do desejo?
O desejo sexual, também conhecido como libido, é uma componente natural da sexualidade humana. É ele que alimenta a nossa vontade de tocar, olhar, beijar… de procurar prazer!
Pode despertar como resposta a estímulos externos, tais como um gesto provocante, palavras sussurradas, um toque inesperado, uma troca de olhares ou a visualização de conteúdos eróticos ou pornográficos. Mas, também pode surgir de dentro: de uma memória, de uma fantasia proibida, ou simplesmente da vontade de querer agradar a quem se ama.
Mas, tão natural como o desejo pode surgir… também pode abrandar. E, quando isso acontece, é frequente surgirem dúvidas, culpas e inseguranças. Mas, é importante lembrar: o desejo é sensível ao que nos rodeia e ao que se passa dentro de nós. Na verdade, o desejo funciona como um termómetro do nosso bem-estar físico, psicológico e relacional.
E, ao contrário do que muitas vezes ouvimos, as hormonas não são as únicas protagonistas desta história! É verdade que as hormonas têm um papel relevante, mas algumas doenças crónicas (como cancro, diabetes, doenças cardiovasculares e ginecológicas), o uso de certos medicamentos (antidepressivos, neurolépticos, sedativos, anti-hipertensivos e quimioterápicos), altos níveis de stress e ansiedade, estados depressivos, experiências sexuais traumáticas, baixa autoestima, má imagem corporal, crenças erróneas e falta de informação acerca da sexualidade, mensagens parentais negativas acerca do sexo, além da qualidade da própria relação amorosa, não são apenas atores secundários!
Além disso, é esperado que um casal apresente variações no desejo sexual. Se no início das relações, é normal os casais transpirarem desejo e sentirem uma vontade enorme de fazer amor em qualquer oportunidade, com o passar dos anos, a rotina tende a ganhar terreno: as questões do dia-a-dia parecem ser sempre prioritárias … e o sexo perde lugar na agenda. Mas, nem sempre, essa diminuição de desejo sexual é sinónimo de falta de paixão ou amor!
O Desejo Sexual Hipoativo, também conhecido como Falta de Libido, é uma das disfunções sexuais femininas mais comuns. Caracteriza-se pela ausência ou diminuição persistente e recorrente de desejo sexual, bem como pela falta de pensamentos ou fantasias sexuais, afetando significativamente a qualidade de vida da própria pessoa e, quando em casal, da relação conjugal. E, embora possa surgir em qualquer idade, esta dificuldade torna-se especialmente frequente na menopausa, afetando cerca de 20 a 40% das mulheres.
Isto acontece porque com a chegada do climatério e da menopausa, há uma quebra na produção de hormonas associadas à sexualidade: a progesterona, a testosterona e o estrogénio. Estas alterações podem afetar a lubrificação vaginal, tornando a mucosa mais seca, sensível e propensa ao desconforto durante a penetração, sobretudo se não forem usados lubrificantes ou hidratantes íntimos adequados.
Mas, isto não significa que a vida sexual tenha de desaparecer. Significa apenas que o corpo pede novas formas de estímulo, mais prolongadas e criativas. Isso pode ser uma oportunidade para o casal se redescobrir, para aprofundar a intimidade e reinventar a forma de estarem juntos.
Pois é! É possível recuperar a chama do desejo. A vida sexual pode ganhar um novo fôlego quando os casais se permitem experimentar, fantasiar, rir, falhar e tentar outra vez. Variar a rotina, explorar brinquedos sexuais, criar momentos de sedução, aceitar as fantasias sexuais, partilhá-las, compreendê-las e integrá-las na vida íntima pode ser um poderoso afrodisíaco. Afinal, o desejo também se alimenta da imaginação.