Artigo

Notei que para muitos o PIPY é vilão, mas se fosse um vilão, qual seria o seu crime? Sedução em primeiro grau? Manipulação do desejo? Um plano maquiavélico para perfumar corpos e confundir mentes? No tribunal da opinião pública, ele já foi acusado de muitas coisas: de alimentar inseguranças, de cheirar a submissão, de vender um prazer embalsamado, mas honestamente, essa maneira de o ver não me faz sentido.

Se assim fosse, escolheria ver um mundo onde toda a cosmética íntima é um delito e onde qualquer tentativa de artificialização – mesmo consciente e informada –deve ser combatida.

O que é engraçado é que, as mesmas pessoas que o sentem vilão, quase que acabam por pô-lo num pedestal de herói, como se ele tivesse prometido libertar as mulheres da vergonha, dar-lhes um superpoder de confiança instantânea e transformar cada encontro num espetáculo cinematográfico e eu entendo, mas não vamos confundir as coisas. Somos todas crescidas para saber que nunca um frasco carregaria tanto poder.

O PIPY nunca sonhou ser esse tipo de salvador e estas promessas foram feitas não por ele, mas pelos seus opositores, os mesmos que o preferem ter como vilão.

Na verdade, o PIPY não salva ninguém, nem destrói nada.

Não é um manifesto feminista, mas também não me parece, de todo, um golpe do capitalismo. É só uma bruma íntima, como já existem outras tantas, mas também é muito mais do que isso porque tudo o que tocamos, ganha camadas e significados.

Além de tudo, o que senti foi que o PIPY veio reforçar os nossos conhecimentos sobre a saúde da vulva e abrir o discurso para a cosmética íntima, um tópico sex-positive que exige, exatamente, este tipo de diálogo e informação para que as pessoas façam escolhas mais seguras. Ou vão dizer-me que nunca borrifaram perfume nas coxas antes daquele date, ou mais relacionável ainda, nunca se perguntaram se a outra pessoa sentia o cheiro da mesma maneira que vocês?

O PIPY, certamente, não é a solução, mas tão pouco, o problema...Ele não é herói nem vilão, mas não há dúvidas de que tem um papel fundamental na história. É o tal elemento que mexe na trama, que obriga as personagens a tomarem posições, que faz com que revelem o que já estava dentro delas. Ele não cria inseguranças, mas expõe as que já existem. Não resolve questões de autoestima, mas põe o dedo nelas.

Não, não é uma revolução feminista, mas muito menos um inimigo do empoderamento. É apenas um espelho e cada uma vê nele o que já carrega dentro de si. No fundo, é como aquela “cueca da sorte”.

APENAS A MINHA EXPERIÊNCIA PESSOAL: Não me deu comichão nenhuma, de facto, o meu apetite sexual aumentou e a minha confiança no trabalho também.

Se calhar, esse é o verdadeiro efeito do PIPY: um convite para nos sentirmos mais nossas.

Se era preciso o PIPY para isso? Pelos vistos, sim. As personagens secundárias existem para isso mesmo, mas o final não é sobre elas, pois não? É sobre nós.

Para ler o artigo completo CLIQUE AQUI. Texto ilustrado por Ultimaweapo | Instagram