testemunho pessoal

testemunho pessoal

Beatriz | 47 anos

“Não sou fada do lar. Não cozinho, não limpo, não passo a ferro… e estou bem assim.” 

“Não tenho qualquer problema em admitir que as tarefas da casa não são para mim. Houve uma altura, no meu primeiro emprego e início da fase adulta, que posso ter tido alguma vergonha sobre o tema porque as minhas colegas me viam como mimada, por dizer que não fazia as tarefas domésticas”, Beatriz, 47 anos.

Quisemos saber qual tem sido a reação das pessoas mais próximas em relação a esta forma de estar na vida: “neste momento, já nem reparo se olham de lado para mim ou não. Se o fazem, não dou mesmo por isso, porque estou super tranquila sobre este assunto. Sei que as pessoas, normalmente, se riem, não sei se por graça, desdém ou compaixão, mas também, quando falo do tema menciono-o sempre de uma forma divertida e termino sempre com “cada um é para o que nasce.

Ficámos curiosas sobre a dinâmica em casa da Beatriz e ela explicou-nos que para a limpeza da casa e o passar a roupa a ferro tem sempre ajuda externa de uma senhora. No que diz respeito à cozinha, admite que teve muita sorte: “ter um marido que é o meu oposto nestas questões: muito arrumado e organizado e o melhor de tudo, adora cozinhar, por isso, as refeições ficam 99% das vezes por conta dele. Se não fosse assim, também sei que eu teria de fazer diferente.

Quando nos casámos ele disse-me que cozinhar, para ele, era terapia, ao que respondi “perfeito, para mim comer também é uma terapia”.

Às quintas-feiras o meu marido raramente janta em casa e, nesses dias, a minha filha já sabe que é dia de encomendar comida.

No que respeita a colocar a roupa a lavar, estender e apanhar vamos fazendo os dois, mas sem regras estabelecidas.”

A Beatriz é mãe de uma menina e tentámos perceber que tipo de educação e mensagem é que gostava de passar à filha: “a mesma mensagem que estaria a passar se fosse mãe de um rapaz. Ainda bem que o meu trabalho me permite ganhar o suficiente para não fazer o que não aprecio. E se assim não for, que numa casa todos têm igual responsabilidade de ajudar.”

E se o trabalho não permitisse ter esta ajuda e se, por algum motivo, tivesse mesmo que ser uma “fada do lar” como seria a vida da Beatriz?

“Teria de o fazer. Quando era miúda na casa dos meus pais, não havia “mulher a dias” então à sexta-feira à tarde e sábado de manhã era dia de limpezas para mim e para a minha irmã. Era um dia chato e irritante, mas tinha de ser feito. Em minha casa seria igual. Eu só sou assim porque tenho possibilidade de ser assim. Sem qualquer inspiração. Se o meu marido não gostasse de cozinhar, tinha de dividir essa responsabilidade com ele.”

O que é que gostavas de dizer a todas as mulheres que estejam a ler este artigo:

“É importante termos consciência que as tarefas da casa não são só responsabilidade das mulheres e educar os filhos com esse princípio, também é fundamental, para que, no futuro, seja mais fácil este tipo de decisões poderem acontecer.

Na casa dos meus pais, as tarefas da casa eram exclusivas da minha mãe e a partir de uma certa idade nós passámos a ajudar, mas porque os meus pais assim o tinham estipulado. O meu pai saía todos os dias para trabalhar fora e a minha mãe ficava em casa era “dona de casa”, com a responsabilidade da casa e das filhas. No entanto, nunca passaram a ideia que nós (eu ou a minha irmã) casando teríamos de assumir a mesma responsabilidade, porque assumiram, desde logo, que também nós sairíamos de manhã para trabalhar. Neste momento, também a minha mãe já tem ajuda em casa e o meu pai está tranquilo com isso.