Testemunho

11.02.2025
Por: Carina Caldeira
Ensinam-nos desde pequenos que não existe amor como o de uma mãe.
Tentam preparar-nos para tudo, desejam-nos horas pequenas de parto e longas de sono.
Mas a verdade é que ninguém nos prepara para o que quer que seja.
Fui uma grávida ansiosa e cheia de inseguranças. Acelerada como sou, desejei que tudo passasse demasiado rápido, sofri com as alterações ao meu corpo, com os altos e baixos hormonais. A única coisa que me apaziguou ao longo de nove meses foi a certeza inabalável que não amaria ninguém como a minha filha e que a minha vida mudaria nesse dia.
Falemos friamente sobre a maternidade, sem glitter ou unicórnios a sussurrarem-nos aos ouvidos.
Não temos de viver tudo pelo guião dos outros.
Nunca esquecerei a primeira vez que vi cada um dos meus filhos.
Se os amei à primeira vista? Não sei.
Sobretudo da primeira vez, olhei para um ser tão pequeno e só senti medo, um medo incapacitante que nunca tinha imaginado.
Fiquei apavorada.
Porque a sobrevivência daquela pessoa, uma pessoa que só vivia na minha imaginação até àquele momento - e passar nove meses a idealizar alguém é demais para alguém tão pequeno -, dependia de mim, e por me sentir culpada por não estar a sentir o que toda a gente me deu como certo.
E, muito honestamente, eles olharam-me com o mesmo ar assustado de quem não sabia se devia confiar em mim.
Além do amor incondicional, há mães que falam em cheiros, em décimo sétimo instinto e num ímpeto animal para, de repente, simplesmente sabermos e conseguirmos resolver tudo.
Talvez funcione assim para muitas.
Mas eu só senti medo.
“Hello, stranger! Sou tua mãe”
Ninguém me contou que aquele seria o momento mais marcante, mas também o mais estanho e aterrador da minha vida.
Porque - acredito! - não é igual em todas as salas de parto e, ainda assim, não é esse momento que dita a qualidade de cada mãe.
O amor também vem em forma de medo e no terror da falha.
O amor só não conhece culpas. Por isso, guardem os dedos onde a imaginação vos pedir e não os apontem.
Tive de conhecer os meus filhos. Eles a mim. Tive de me conhecer melhor e reconhecer todas essas angústias e medos.
Fiz terapia e continuo a fazer.
Não sou uma mãe perfeita, nunca vou ser.
Mas, todos os dias, sou melhor.
Ninguém me contou que a maternidade também é escuridão e que traz novas culpas a toda a hora.
Ninguém me contou. E por isso, é que é importante estar aqui a contar-vos, strangers.