Artigo Profissional

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Por: Dra. Andreia Filipe Vieira, psicóloga especialista em psicoterapia psicodinâmica

Vivemos em ritmo acelerado e queremos ser tudo: fortes, presentes, impecáveis. No trabalho, em casa, nos afetos. E, no meio dessa pressa, esquecemo-nos de ouvir o corpo. Ele fala connosco, com o coração que dispara, o peito apertado, a insónia que chega de madrugada. Chamamos-lhe ansiedade e stress. Mas, muitas vezes, é simplesmente a mente e o corpo a pedirem pausa.

A ansiedade é a resposta do corpo a algo que sentimos como ameaça. Na minha visão como psicóloga, reparo que a ansiedade é muitas vezes vista como o problema, mas a verdade é que ela até pode ser nossa aliada. Visto funcionar como mecanismo de defesa contra os perigos, se não tivéssemos nenhuma ansiedade, atravessaríamos a rua sem olhar, corríamos risco de vida constantemente. O problema é quando esta ansiedade se torna um excesso, e se transforma numa prisão e num bloqueio para o nosso crescimento pessoal e emocional.

Quando o corpo vive em alerta constante, a mente nunca descansa. E tudo se torna demasiado. O pensamento acelera, o sono fica afetado, o cansaço instala-se. Ficamos num modo de sobrevivência, a tentar controlar o que nem sempre pode ser controlado.

O stress surge quando as exigências ultrapassam os nossos recursos. Pode vir do trabalho, das relações, das expetativas. E, nas mulheres, há um peso particular: o de querermos dar conta de tudo e de todos, de corresponder e de não falhar. Mas ninguém aguenta viver em alerta permanente. E de facto, quando queremos controlar tudo e cuidar de todos, esquecemo-nos de cuidar de nós próprias.

O que precisamos de saber é simples e, ao mesmo tempo, difícil de aceitar: sentir ansiedade não é sinal de fraqueza, é sinal de humanidade, é apenas o nosso corpo a pedir escuta e maior atenção.

O problema não é sentir, é ignorar o que se sente. Porque quando silenciamos emoções, elas encontram sempre outra forma de se fazer ouvir. E é aí que o corpo fala mais alto: através da dor, da tensão, da fadiga, da falta de ar e da sensação de sufoco.

Resistir à ansiedade não é lutar contra ela, é aprender a viver com ela. É escutá-la com curiosidade, não com medo. É perceber o que ela tenta dizer. Talvez esteja a ultrapassar limites há demasiado tempo. Talvez esteja a cuidar de todos menos de si. Talvez precise de abrandar, não porque é fraca, mas porque é humana.

Para além disso, talvez esteja a exigir demasiado de si, esse “cuidar de todos”, vem de raízes e crenças familiares? culturais? ou também de alguma necessidade de validação e aceitação por parte do outro? Introspecção e compreender a causa é também sem dúvida, a melhor forma de reduzir a sintomatologia ansiosa, caso contrário, só iremos colocar um penso rápido na ferida.

Não obstante, existem gestos que fazem a diferença: respirar devagar, desligar o piloto automático, dizer “não” sem culpa e permitir-se falhar. Falar sobre o que sente com alguém que a ouça sem julgamento.

Acrescento ainda, que muitas vezes vivemos em alerta constante, como se a qualquer momento ficássemos sem chão, e o que muitas vezes não sabemos é que, se calhar noutra fase da nossa vida tivemos que dar conta de tudo sozinhas, e essa crença instalou-se na nossa mente como um alerta de que: “se eu não sentir que tenho tudo sob controlo, o meu mundo pode desabar”. No entanto, quanto mais tentamos controlar o impossível, mais nos perdemos.