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Artigo Profissional

21.04.2025

Artigo Profissional

Por: Fernando Mesquita | Psicólogo Clínico/Sexólogo

É possível recuperar a chama do desejo?

O desejo sexual, também conhecido como libido, é uma componente natural da sexualidade humana. É ele que alimenta a nossa vontade de tocar, olhar, beijar… de procurar prazer!

 

Pode despertar como resposta a estímulos externos, tais como um gesto provocante, palavras sussurradas, um toque inesperado, uma troca de olhares ou a visualização de conteúdos eróticos ou pornográficos. Mas, também pode surgir de dentro: de uma memória, de uma fantasia proibida, ou simplesmente da vontade de querer agradar a quem se ama.

 

Mas, tão natural como o desejo pode surgir… também pode abrandar. E, quando isso acontece, é frequente surgirem dúvidas, culpas e inseguranças. Mas, é importante lembrar: o desejo é sensível ao que nos rodeia e ao que se passa dentro de nós. Na verdade, o desejo funciona como um termómetro do nosso bem-estar físico, psicológico e relacional. 

 

E, ao contrário do que muitas vezes ouvimos, as hormonas não são as únicas protagonistas desta história! É verdade que as hormonas têm um papel relevante, mas algumas doenças crónicas (como cancro, diabetes, doenças cardiovasculares e ginecológicas), o uso de certos medicamentos (antidepressivos, neurolépticos, sedativos, anti-hipertensivos e quimioterápicos), altos níveis de stress e ansiedade, estados depressivos, experiências sexuais traumáticas, baixa autoestima, má imagem corporal, crenças erróneas e falta de informação acerca da sexualidade, mensagens parentais negativas acerca do sexo, além da qualidade da própria relação amorosa, não são apenas atores secundários!

 

Além disso, é esperado que um casal apresente variações no desejo sexual. Se no início das relações, é normal os casais transpirarem desejo e sentirem uma vontade enorme de fazer amor em qualquer oportunidade, com o passar dos anos, a rotina tende a ganhar terreno: as questões do dia-a-dia parecem ser sempre prioritárias … e o sexo perde lugar na agenda. Mas, nem sempre, essa diminuição de desejo sexual é sinónimo de falta de paixão ou amor!

 

O Desejo Sexual Hipoativo, também conhecido como Falta de Libido, é uma das disfunções sexuais femininas mais comuns. Caracteriza-se pela ausência ou diminuição persistente e recorrente de desejo sexual, bem como pela falta de pensamentos ou fantasias sexuais, afetando significativamente a qualidade de vida da própria pessoa e, quando em casal, da relação conjugal. E, embora possa surgir em qualquer idade, esta dificuldade torna-se especialmente frequente na menopausa, afetando cerca de 20 a 40% das mulheres.

 

Isto acontece porque com a chegada do climatério e da menopausa, há uma quebra na produção de hormonas associadas à sexualidade: a progesterona, a testosterona e o estrogénio. Estas alterações podem afetar a lubrificação vaginal, tornando a mucosa mais seca, sensível e propensa ao desconforto durante a penetração, sobretudo se não forem usados lubrificantes ou hidratantes íntimos adequados.

 

Mas, isto não significa que a vida sexual tenha de desaparecer. Significa apenas que o corpo pede novas formas de estímulo, mais prolongadas e criativas. Isso pode ser uma oportunidade para o casal se redescobrir, para aprofundar a intimidade e reinventar a forma de estarem juntos.

 

Pois é! É possível recuperar a chama do desejo. A vida sexual pode ganhar um novo fôlego quando os casais se permitem experimentar, fantasiar, rir, falhar e tentar outra vez. Variar a rotina, explorar brinquedos sexuais, criar momentos de sedução, aceitar as fantasias sexuais, partilhá-las, compreendê-las e integrá-las na vida íntima pode ser um poderoso afrodisíaco. Afinal, o desejo também se alimenta da imaginação.

 

TESTEMUNHO PESSOAL

04.04.2025

TESTEMUNHO PESSOAL

  Por: Cristiana, 39 anos    Nasci no Porto, a cidade mais linda do Mundo, e sou emigrante na Alemanha há 7 anos.    Aos 36 anos fui mãe de um menino que é a minha maior benção, o Rodrigo.  A maternidade foi sempre um dos meus objetivos, sempre sonhei ser Mãe.  Um sonho, muitas vezes, adiado porque queria reunir as condições necessárias para viver a maternidade na sua plenitude, com todos os prós e contras que dela advêm.  Queria ser uma Mãe presente. Não queria ter um filho que passasse mais tempo com os Avós do que com os Pais.  Eu sou da opinião que os Avós são Fundamentais na vida das crianças, mas queria poder dar ao meu Filho o que considero mais valioso: tempo de qualidade, exemplo e valores.    Na agitação que é a nossa vida, viemos parar à Alemanha e foi aqui que o meu Filho nasceu.    Sou uma pessoa muito positiva, vejo sempre o copo meio cheio, e embora a Emigração não seja um processo fácil, foi sem dúvida o período de maior aprendizagem da minha vida e foi por causa desta aventura que a vida me permitiu realizar sonhos: casar e ser mãe.   Hoje consigo ser uma mãe presente, que acompanha, que cuida.  A nossa única rede de apoio é o infantário, porque estamos longe da família,  o que nos permitiu sermos pais sem muitos “palpites” alheios. Educamos da maneira que achamos mais correta, em todos os sentidos.    E por falar em palpites e/ou julgamentos, neste momento, encontro-me numa situação que é alvo de muito “achismo”. O meu filho tem três anos e meio e eu ainda estou a amamentar. O que, para mim, é maravilhoso. Já ouvi uma influenciadora portuguesa (bem influente, por sinal) que era da opinião de que não fazia sentido amamentar uma criança já com dentes. Também ouvi de uma médica, com aquele tom de julgamento, que ele ia ter 6 anos e ainda ia estar a mamar.São comentários e opiniões que não me afetam, porque sou muito segura em relação ao que quero e às minha ideias, mas e aquelas pessoas que não o são? Aquelas pessoas que se deixam influenciar? O que é que lhes acontece? Provavelmente, mesmo querendo continuar a amamentar, cortam esse vínculo baseando-se naquilo que os outros acham e naquilo que a sociedade acha que tem de ser. Só consigo ter pena.   Para mim, ser Mãe, é o papel que me faz sentir mais completa enquanto Mulher e poder ter sido alimento, suplemento e agora conforto para o meu filho ainda me deixa mais realizada.  Deixo aqui a reposta que dei à referida médica para que possam refletir: ‘enquanto estiver a ser confortável para mim e para ele, que somos as pessoas envolvidas, eu vou continuar a amamentar.’  Que a sociedade se deixe de estereótipos e que se informe. Acredito que,  mesmo após os 2 anos, o leite materno continua a ter muitas vantagens para o bebé.    Sejam felizes à vossa maneira.      

TESTEMUNHO PESSOAL

01.04.2025

TESTEMUNHO PESSOAL

Por: Rafaela Granado | Apresentadora / Repórter TV “Sou mãe de uma só filha, e então?” Sempre tentei ser respeitosa e saber o limite nas palavras ou perguntas a mulheres sobre escolhas e maternidade. Sobretudo quando, muitas vezes, a questão pode até nem ser uma escolha e ser, tão somente, uma impossibilidade da vida pelos mais diversos e, até possivelmente, dolorosos motivos. Tenho uma filha, Maria Pia, linda, saudável, espirituosa, educada e amorosa com todos. Tem 9 anos. As frases que mais ouço (adivinhem!) há exatos 9 anos, vindas literalmente do nada, são: “E então? Quando vais ter o segundo filho?” “Mas tu não queres ter outro filho?” “A Pia não pede irmãos?” “A Maria está a precisar de um irmãozinho” “Ah, que pena, não ter irmãos…” “Vocês são tão bons pais, podiam ter mais filhos.” – dentre um rol de muitas outras. Durante muito tempo, relacionei tudo isto com o facto de que as pessoas estão sempre a COBRAR. A cobrança faz parte da natureza humana. Se não namoras, onde está o namorado? Se namoras, para quando o noivado? Se estás noiva há uns meses, ah por que tem que se marcar a boda! Se estás casada há um ano, não vão ter bebés?! Se tens o primeiro, para quando o segundo?! E por aí fora… Sempre, sempre a cobrança. E o que mais me choca e entristece é que vem mais de mulheres para mulheres. A sensação que tenho é que, para algumas mulheres, existe um certo deleite em cobrar algo de outra mulher. O real porquê, não sei, porque na minha natureza, não tenho isso. Mas nos últimos tempos, e porque o tema é recorrente, tenho realmente pensado bastante sobre o assunto. É porque não é só o quando vem o segundo filho, é todo o conceito “filho único” que me traz desconforto, pelo que há muito que leio sobre. Porque será que uma mulher que tem mais filhos, numericamente falando, se poderá achar nalguma medida superior a outra? Será uma forma, quem sabe?, de colmatar uma inferioridade que sentem noutras áreas da vida e tentam usar contra o Mundo uma medalha invisível do tipo “eu tenho mais filhos, eu sou melhor, eu mereço um prémio, eu sou mais”, porque lá no fundinho se acham aquém, na generalidade da sua vida? Será que, porque a imagem que tem de si mesma não lhes basta, tentam então que esta matemática de filhos seja aquilo que as superioriza em relação a outras? Nunca nada basta. Nada é o bastante. E o ciclo perpetua-se. Outra questão com a qual já fui confrontada: “Não lhe vais dar um irmãozinho para ela brincar?”. Mas estamos a falar de quê? De um brinquedo? De um qualquer Nenuco para a criança pegar e brincar?! As pessoas têm filhos para dar uma pessoa, um outro ser humano de “presente” ao primeiro filho e assim sucessivamente? Eu não vejo as coisas assim, lamento. Percebo o valor de ter irmãos, assim como vejo muitos outros tantos irmãos com relações péssimas e até mesmo tóxicas. E não, a minha filha única, (adoro a forma como muita gente entoa a expressão “filho único” depreciativamente, imagine-se!, quando já vários especialistas vieram inclusivamente condenar a existência de tal conceito), nunca me pediu irmãos, até bem pelo contrário. O que também é perfeitamente indiferente, porque não é uma criança que decide nada nesta casa. Corroborando vários estudos empíricos e psicológicos que li, posso até dizer que conheço vários filhos sem irmãos que são o oposto daquilo que vulgarmente consideramos pessoas mimadas ou narcisistas, socialmente afetadas ou superprotegidas - características levianamente atribuídas a meninos ou meninas sem irmãos. Poderia até citar pelo menos cinco nomes, seguramente, de amigos meus sem irmãos que são altamente generosos, capazes, altruístas, sociáveis, excelentes companhias, bem mais do que pessoas criadas com dois e três irmãos em casa. O ter ou não irmãos não influi no indivíduo, mas sim a criação, a conexão e a ligações emocionais criadas durante a vida, com todas as pessoas com quem nos relacionamos. De resto, as diversas comparações entre irmãos podem gerar inclusivamente traumas para toda a vida em muitos que consistentemente vivem em relações problemáticas com os pais precisamente por causa das diferenças de personalidade e/ou até mesmo de tratamento diferenciado entre irmãos. E aquela situação clássica em que uma mulher apresenta outra mulher da seguinte forma: “Esta é a minha amiga Sara, tem três filhos vê lá tu!, e dois são gémeos!” Como assim?! Isto é o que define a Sara? Se é mãe e tem filhos gémeos? A mim interessa-me zero essa informação num primeiro momento. Claro que quero conhecer a Sara, adoro conhecer pessoas, saber de todas as suas facetas, e certamente essa será interessante. Mas nunca, jamais, será essa a que a define. Durante muito tempo, a única missão da Mulher foi realmente a de procriar e manter o lar segundo a lei do homem; até ao início do século XX, inclusivamente, uma mulher que não pudesse ter filhos, poderia ser ostracizada e até rejeitada pelo patriarcado. Só mais uma forma, no fundo, da sociedade machista em que aprendemos a viver e sobreviver, controlar a vontade, o poder de escolha e livre arbítrio da mulher. Ter um só filho então, meu Deus!, significaria que a mulher era fértil, mas não queria ter mais filhos – que audácia, que egoísmo, que despautério! Quando muitas vezes sabemos que o facto de uma mulher ter um filho não significa que não possa ter dificuldades ou infertilidade à posteriori. Como católica praticante, invoco aqui algumas palavras do nosso querido Papa Francisco – “A mulher não é um ser humano de segunda categoria”. “Esta é uma sociedade com uma forte atitude masculina. Falta a mulher. ‘Sim, sim: a mulher é para lavar a louça, para fazer…’ Não, não: a mulher é para trazer harmonia. “As mulheres têm muito a dizer-nos na sociedade atual. Às vezes somos demasiado machistas, e não deixamos espaço à mulher”. Daqui retiro que a Mulher merece o mesmo respeito, os meus direitos e deveres, o mesmo poder de escolha e análise da sua vida e dos que a rodeiam. Sejamos todas menos machistas, e dispamo-nos dos preconceitos que nos foram incutidos desde pequenas. Perdoemo-nos das nossas próprias fragilidades e não andemos sempre com o modo comparação ligado. Não quero de forma alguma melindrar familiares, nem amigas e amigos, nem pessoas próximas que me são tão queridas que sei que não fazem este tipo de “cobrança” com maldade. Outras sei que o fazem precisamente com requintes de malvadez. Eu sei bem ver a diferença. Mas peço apenas que pensem sobre isto. A cobrança constante não é GIRA. E recuperando uma das ideias iniciais, ninguém sabe a não ser eu, no meu mais íntimo ser, o porquê das minhas escolhas ou da minha realidade. Respeitem-na. Ter mais ou menos filhos não nos valida mais ou menos enquanto pessoas, mulheres, mães ou até esposas. Desenganem-se. A minha maior medalha será sempre a qualidade da relação única, amorosa, presente e indestrutível que construo a cada dia com a minha filha. Sim, a minha única e deliciosa filha. Que eu escolhi ser a única. Para já. E, no futuro, logo se verá o que acontece. Aí, também, estaremos prontos para receber, educar, amar e acompanhar. Mas jamais para contabilizar, fazer competição ou, muito menos, só número. Finalizando, digo isto com amor: sejam felizes e empáticos! O Mundo será sempre um lugar melhor.

Artigo Profissional

24.03.2025

Artigo Profissional

Por: Dra. Catarina Lucas | Psicóloga/Sexóloga e Diretora do Centro Catarina Lucas  Sexo na Menopausa: (re)descobrir o prazer A menopausa é uma fase natural da vida da mulher, marcada por transformações hormonais que têm impacto em vários aspetos do seu bem-estar, incluindo a sexualidade. No entanto, esta fase não é sinónimo de perda de prazer ou fim da vida sexual. Pelo contrário, pode ser uma oportunidade para redescobrir o corpo, explorar novas formas de intimidade e fortalecer os laços emocionais e sexuais com o parceiro/a. Como é que a sexualidade é afetada? Durante a menopausa, os níveis de estrogénio e progesterona diminuem, o que pode levar a mudanças físicas e emocionais que influenciam a vida sexual, tais como: - Ressecamento vaginal: a redução de algumas hormonas pode tornar a mucosa vaginal mais fina e menos lubrificada, tornando o sexo desconfortável ou doloroso. - Diminuição da líbido: as alterações hormonais podem reduzir o desejo sexual. - Mudanças na resposta sexual: algumas mulheres podem notar menos sensibilidade ou dificuldade em atingir o orgasmo. - Fatores emocionais: ansiedade e alterações de humor também podem influenciar a disposição para o sexo.  Dicas para uma vida sexual gratificante na menopausa Quando ocorrem mudanças na vida sexual é importante entender que existem diversas formas para lidar com elas e manter a uma intimidade prazerosa. - Investir na lubrificação: o uso de lubrificantes à base de água ou hidratantes vaginais pode aliviar o desconforto durante a relação sexual e tornar a experiência mais prazerosa. - Terapia hormonal: para algumas mulheres, a terapia de reposição hormonal, prescrita por um médico, pode ser uma alternativa para aliviar os sintomas da menopausa, incluindo o impacto na sexualidade. - Explorar novas formas de intimidade: o sexo não se resume apenas à penetração. Explorar outras formas de prazer, como beijos, carícias, massagens e o uso de acessórios eróticos, pode tornar a intimidade mais prazerosa e satisfatória. - Autoconhecimento: a redescoberta do corpo é essencial. Masturbação e práticas de autocuidado ajudam a entender melhor as novas sensações e desejos. - Comunicação: o diálogo sobre desejos, inseguranças e necessidades fortalece a conexão emocional e sexual do casal, permitindo ajustes e novas experiências. - Cuidar da saúde física e mental: atividades físicas, alimentação equilibrada e técnicas de relaxamento, como yoga e meditação, contribuem para o bem-estar geral, com impacto positivo na sexualidade. - Acompanhamento psicológico: a psicoterapia pode ser uma aliada para enfrentar esta fase, lidar com as mudanças físicas e psicológicas e intervir em sintomas depressivos e de ansiedade, comuns também nesta fase. O prazer não tem idade A menopausa pode ser uma fase de transformação, mas também de oportunidades para ressignificar a sexualidade. Com informação, autoconhecimento e diálogo, é possível manter uma vida sexual ativa, saudável e prazerosa, independentemente da idade. Procurar ajuda pode ser essencial para viver esta etapa com leveza, respeito ao próprio corpo e, acima de tudo, prazer!    

Testemunho

14.03.2025

Testemunho

Por: Joana, Lisboa, 35 anos.  Sou uma mulher menos digna por perdoar uma, aliás, muitas traições?  Estou num relacionamento há quase dez anos e, no início do mesmo, perdoei várias traições.  Há mulheres que me dizem que "nunca perdoariam o companheiro" e eu também dizia isso, até estar EU no papel principal. Eu e o meu companheiro separámo-nos pelo caminho, cheios de mágoa, revolta, dor e tristeza, até nos voltarmos a juntar. No meio, cada um fez a sua terapia. Um para curar a razão dessa incessável necessidade de atenção, provocada pela ausência da sua mãe e eu, para curar o sentimento de rejeição, provocado pela falta de atenção que sentia por parte do meu pai. Não fazia ideia do impacto que isto teve e tem sobre mim, até trabalhar este ponto em terapia.   Juntos, cada um com as suas falhas, conseguimos perceber que o que se passou no passado não significava ausência de amor dentro de casa. Sou muito criticada e já me ofenderam de muitas maneiras: "corna mansa", "iludida", "tóxica", etc. Outras ofensas foram dirigidas ao meu companheiro. Diziam que eu não via como ele era um "narcisista". Enfim, a verdade é que ele nunca me responsabilizou por nenhuma atitude dele, nem se mostrou superior a mim em relação nada, muito pelo contrário, assumiu o que fez e lutou muito para ser e fazer diferente.  Passei por momentos complicados e tive dificuldade em voltar a confiar. Sou humana e, mais do que isso, sou mulher! A mulher está, constantemente, desconfiada de tudo e, muitas vezes, desnecessariamente. Não temos controlo sobre nada e, o que percebi no processo, é que eu também não fui nenhuma santa. Não fiz o mesmo, mas não fui santa. Ninguém é. Cada um de nós tem necessidades diferentes, falhas diferentes. Somos humanos, poderia ser de outra forma? Fico triste quando percebo que há mulheres que são cruéis umas para outras e, muitas delas, podem até estar a viver uma situação semelhante. Quero acreditar e tenho essa esperança de que a sociedade possa ser mais gentil. Houve arrependimento, houve uma mudança de atitude e houve crescimento pessoal. Se existe amor, as pessoas devem estar juntas e é isso que acontece connosco ponto final.  

Artigo

10.03.2025

Artigo

Notei que para muitos o PIPY é vilão, mas se fosse um vilão, qual seria o seu crime? Sedução em primeiro grau? Manipulação do desejo? Um plano maquiavélico para perfumar corpos e confundir mentes? No tribunal da opinião pública, ele já foi acusado de muitas coisas: de alimentar inseguranças, de cheirar a submissão, de vender um prazer embalsamado, mas honestamente, essa maneira de o ver não me faz sentido. Se assim fosse, escolheria ver um mundo onde toda a cosmética íntima é um delito e onde qualquer tentativa de artificialização – mesmo consciente e informada –deve ser combatida. O que é engraçado é que, as mesmas pessoas que o sentem vilão, quase que acabam por pô-lo num pedestal de herói, como se ele tivesse prometido libertar as mulheres da vergonha, dar-lhes um superpoder de confiança instantânea e transformar cada encontro num espetáculo cinematográfico e eu entendo, mas não vamos confundir as coisas. Somos todas crescidas para saber que nunca um frasco carregaria tanto poder. O PIPY nunca sonhou ser esse tipo de salvador e estas promessas foram feitas não por ele, mas pelos seus opositores, os mesmos que o preferem ter como vilão. Na verdade, o PIPY não salva ninguém, nem destrói nada. Não é um manifesto feminista, mas também não me parece, de todo, um golpe do capitalismo. É só uma bruma íntima, como já existem outras tantas, mas também é muito mais do que isso porque tudo o que tocamos, ganha camadas e significados. Além de tudo, o que senti foi que o PIPY veio reforçar os nossos conhecimentos sobre a saúde da vulva e abrir o discurso para a cosmética íntima, um tópico sex-positive que exige, exatamente, este tipo de diálogo e informação para que as pessoas façam escolhas mais seguras. Ou vão dizer-me que nunca borrifaram perfume nas coxas antes daquele date, ou mais relacionável ainda, nunca se perguntaram se a outra pessoa sentia o cheiro da mesma maneira que vocês? O PIPY, certamente, não é a solução, mas tão pouco, o problema...Ele não é herói nem vilão, mas não há dúvidas de que tem um papel fundamental na história. É o tal elemento que mexe na trama, que obriga as personagens a tomarem posições, que faz com que revelem o que já estava dentro delas. Ele não cria inseguranças, mas expõe as que já existem. Não resolve questões de autoestima, mas põe o dedo nelas. Não, não é uma revolução feminista, mas muito menos um inimigo do empoderamento. É apenas um espelho e cada uma vê nele o que já carrega dentro de si. No fundo, é como aquela “cueca da sorte”. APENAS A MINHA EXPERIÊNCIA PESSOAL: Não me deu comichão nenhuma, de facto, o meu apetite sexual aumentou e a minha confiança no trabalho também. Se calhar, esse é o verdadeiro efeito do PIPY: um convite para nos sentirmos mais nossas. Se era preciso o PIPY para isso? Pelos vistos, sim. As personagens secundárias existem para isso mesmo, mas o final não é sobre elas, pois não? É sobre nós. Para ler o artigo completo CLIQUE AQUI. Texto ilustrado por Ultimaweapo | Instagram

Testemunho

07.03.2025

Testemunho

Maria Cerqueira Gomes | Apresentadora TV Muitas vezes SOU uma panela de pressão, mas eu só quero TER uma panela de pressão. Nos dias que correm, sinto que procuramos cada vez mais o sentimento “casa”. E, no meu entender, casa pode ser: os lençóis da cama que nos lembram a casa dos pais, a toalha de mesa com renda da avó ou, uma simples panela de pressão e a panela de pressão teve uma geração inteira contra ela, o que foi injusto e descabido. Ela ajuda-nos na corrida contra o tempo, colabora na textura e sabor e é uma grande aliada para que a frase - “a comida da minha mãe é a melhor” - volte a estar nas mais ditas do ano. Tenho a certeza que, ter uma panela de pressão em casa, faz com que deixe de me sentir uma.

Testemunho

06.03.2025

Testemunho

Andreia, 29 anos | Testemunho Pessoal Crescemos a assistir a uma onda de felicidade sempre que alguém mostra um teste de gravidez positivo.São exclamações, muitos sorrisos e um brilho no olhar, são “muitos parabéns”, etc. Quando vi o meu “positivo” também sorri e consegui, até, fazer uma graça ou outra, mas ao mesmo tempo, era invadida pelo pânico.Sabia que estava tudo errado ao mesmo tempo que via concretizado um sonho. Enquanto tentava tomar uma decisão, dei início ao processo de Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG). Ouvi, várias vezes, as palavras - "objetor de consciência"- e só pensava se havia algo de errado com a minha consciência. Vivia em Cascais e o meu processo passou para Lisboa. É assustador pensarmos que estamos numa capital, que deveria ser um centro de desenvolvimento e no entanto, na realidade, é apenas uma pequena amostra do que achamos serem os cuidados de saúde da Mulher. Todo o tempo que passei na clínica, parecia que estava a viver uma “cena ilegal” de um filme. Acredito que, nem toda a informação que preenchemos nos formulários, foi devidamente lida e além disso, quando saí da consulta, deparei-me com um homem, de uma qualquer ordem religiosa, a oferecer apoio a "mulheres perdidas". O apoio psicológico oferecido durante o processo é feito na própria clínica e muito enviesado. As consultas privadas são caras. Nas caixinhas de perguntas das páginas de Instagram, nenhum psicólogo conhecia grupos de apoio. Nos fóruns da internet falados em português, muitos em português do Brasil, o tema: IVG era e é ilegal. Ainda assim, nesses fóruns, a maior parte refere-se a abortos espontâneos ou a perdas gestacionais e isso, no meu entender, só aumenta o fosso. Os poucos sites que referem a IVG, mencionam que a mulher se costuma sentir aliviada depois de a fazer, por ser aquilo que quer - não foi o meu caso. Não que alguém me tenha obrigado, mas o medo, o racional e a lógica, sim e acredito que seja o caso de muitas outras mulheres, também. Felizmente, tive muito apoio daqueles que me eram mais próximos. Felizmente, vivemos num país onde, legalmente, se podem tomar decisões que são muito pessoais, mesmo que ainda não se falem sobre elas. Ainda não sou mãe, mas acredito que ser uma boa mãe signifique, muitas vezes, tomar decisões difíceis.Naquele momento, fui uma melhor mãe por ter decidido não o ser.

Artigo Profissional

18.02.2025

Artigo Profissional

Por: Dr. Miguel Raimundo  Ginecologista – Obstetra | Medicina da Reprodução | PMA (Procriação Medicamente Assistida) Desde cedo, a sociedade impõe às mulheres um caminho pré-definido: crescer, casar, ser mãe. Ouvimos frases como: “Um dia, quando fores mãe”, “Tens tempo, ainda és nova”, “Não esperes muito, o relógio biológico não perdoa”, ou “Então, e os bebés?”. É como se a identidade feminina estivesse, inevitavelmente, ligada à maternidade. Mas será que ser mulher significa, obrigatoriamente, ser mãe? A verdade é que cada mulher tem o direito de ser dona do seu próprio corpo, das suas escolhas e da sua vida. Algumas desejam ser mães cedo, outras mais tarde. Algumas querem construir carreiras, explorar o mundo, viver sem pressões. E outras, simplesmente, não querem ser mães – e está tudo bem. Mas e se o desejo de maternidade existir, só que não agora? E se houver dúvidas sobre o futuro? A medicina reprodutiva oferece, hoje, uma ferramenta poderosa: o congelamento de óvulos. Esta opção permite que a mulher preserve a sua fertilidade e decida, com total autonomia, quando – e se – quer ser mãe. É um ato de liberdade, de independência, de respeito por si mesma. Permite viver a sexualidade sem receios, sem a pressão do tempo e sem que a maternidade seja uma corrida contra o relógio biológico. No meu consultório, vejo diariamente mulheres a questionarem-se:“E se for tarde demais?”, “E se eu não conseguir?”. A resposta é simples: a ciência evoluiu para dar às mulheres o poder de escolha. Com informação, planeamento e acesso a soluções, como o congelamento de óvulos, cada mulher pode decidir o seu próprio caminho sem que a fertilidade seja uma limitação. A maternidade pode ser um sonho, mas nunca uma imposição. O valor de uma mulher não se mede pela sua capacidade de gerar uma vida, mas sim pela forma como vive a sua – com liberdade, autonomia e respeito por si mesma. A verdadeira força feminina está nessa capacidade de decidir, sem culpa, sem medo e sem pressões.   E isso, acima de tudo, é o que realmente importa.

Artigo Profissional

12.02.2025

Artigo Profissional

Por: Iara Rodrigues | Nutricionista

Testemunho

11.02.2025

Testemunho

Por: Carina Caldeira